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Os Carrapatos Podem Sobreviver Sem Um Hospedeiro? A Verdade Científica Sobre Sua Sobrevivência

Saiba como os carrapatos podem sobreviver sem um hospedeiro e entenda os mecanismos que os tornam tão resilientes e difíceis de controlar.

Os Carrapatos Podem Sobreviver Sem Um Hospedeiro

Os carrapatos são os segundos maiores transmissores de doenças para os seres humanos, perdendo apenas para os mosquitos. Na verdade, existem cerca de 800 espécies desses parasitas no mundo, com uma impressionante capacidade de sobrevivência: podem resistir até 220 dias sem se alimentar.

Além disso, esses parasitas demonstram uma notável adaptabilidade em diferentes ambientes. Por exemplo, as fêmeas podem depositar até 5.000 ovos após se alimentarem de sangue, e suas larvas conseguem sobreviver até 60 dias sem alimento. Neste artigo, vamos explorar em detalhes a extraordinária capacidade de sobrevivência dos carrapatos, desde seus mecanismos biológicos até como eles afetam tanto humanos quanto animais domésticos.

Vamos descobrir como esses parasitas conseguem sobreviver por tanto tempo sem um hospedeiro e entender por que isso os torna tão resilientes e difíceis de controlar em nosso ambiente.

A Surpreendente Capacidade de Sobrevivência dos Carrapatos

 

Quando falamos sobre resistência no reino animal, os carrapatos se destacam como verdadeiros campeões de sobrevivência. Esses pequenos aracnídeos desenvolveram mecanismos impressionantes que lhes permitem persistir em condições que seriam fatais para muitos outros organismos.

Recordes de sobrevivência entre diferentes espécies

 

Entre as características mais notáveis dos carrapatos está sua capacidade de jejum prolongado. As fêmeas adultas conseguem sobreviver até 220 dias sem se alimentar, enquanto os machos adultos resistem aproximadamente 200 dias. Esse período varia conforme a espécie e estágio de desenvolvimento do carrapato.

A longevidade desses parasitas é igualmente impressionante. Carrapatos adultos podem viver até um ano e sete meses, período durante o qual as fêmeas são capazes de colocar entre 2.000 a 22.000 ovos. Para ter uma ideia da dimensão dessa capacidade reprodutiva, basta imaginar que cada fêmea tem potencial para originar cerca de 3.000 novos carrapatos, o que explica como as infestações se alastram rapidamente.

Os carrapatos da família Ixodidae, conhecidos como “carrapatos duros”, são particularmente resistentes. Esses parasitas demonstram maior abundância em ambientes úmidos, onde algumas espécies conseguem sobreviver sem se alimentar por diversos meses ou até anos. Por outro lado, as larvas, primeiro estágio do desenvolvimento, possuem menor resistência, sobrevivendo até 60 dias sem alimentação.

A mobilidade também contribui para sua sobrevivência – eles conseguem percorrer distâncias de até 2 km em busca de um hospedeiro. Esta característica, aliada à sua resistência, torna os carrapatos parasitas extremamente bem-sucedidos em seu nicho ecológico.

Fatores ambientais que influenciam a sobrevivência

 

Os carrapatos são altamente sensíveis às condições ambientais. A temperatura é um dos principais reguladores do ciclo de vida desses parasitas, condicionando diretamente a duração de cada fase de desenvolvimento fora do hospedeiro. Enquanto o carrapato permanece fixo ao hospedeiro, as condições climáticas interferem pouco em sua biologia, mas assim que retorna ao ambiente, torna-se vulnerável às variações climáticas.

A latitude, por meio do fotoperíodo (duração de horas de luz), influencia diretamente na indução da diapausa – um estado de dormência que permite ao carrapato regular seus ciclos sazonais de acordo com o clima. Esta adaptação é crucial para a sobrevivência em regiões com estações bem definidas.

A umidade é outro fator determinante. O habitat dos carrapatos precisa oferecer umidade suficientemente alta para manter seu balanço hídrico. Em áreas onde a umidade é baixa, esses parasitas resistem à dessecação apenas por períodos curtos enquanto buscam hospedeiros.

As diferentes regiões do Brasil apresentam condições climáticas que afetam diretamente o desenvolvimento dos carrapatos. No Sudeste, as condições favorecem a sobrevivência durante todo o ano, com picos de infestação no verão, quando predominam calor e chuvas. Já na região Sul, temperaturas baixas e seca no inverno resultam em desenvolvimento mais lento.

No Nordeste e Norte, as elevadas temperaturas durante grande parte do ano propiciam infestação constante, possibilitando até 5 gerações anuais de carrapatos. Na região Centro-Oeste, pesquisas recentes indicam também a ocorrência de até 5 gerações anuais, contrariando a crença anterior de 4 gerações por ano.

Algumas espécies desenvolveram comportamentos específicos para lidar com condições ambientais desfavoráveis. Fêmeas de Amblyomma sculptum, por exemplo, conseguem penetrar no solo próximo às raízes, atingindo profundidades de até 5 cm quando as temperaturas estão baixas ou há redução no fotoperíodo e nos níveis de umidade relativa do ar. Este comportamento reduz a desidratação do corpo e garante sua sobrevivência por períodos prolongados.

Ademais, práticas de manejo de pastagens também influenciam a sobrevivência dos carrapatos. Pastagens rotacionadas, adubadas com ureia e compostas por capins de alto valor nutritivo podem colaborar no controle desses parasitas. Forrageiras do gênero Panicum, quando manejadas corretamente, expõem mais o solo à luz solar direta, criando um ambiente desfavorável à fase de vida livre do carrapato e resultando em menor infestação por larvas.

Compreender esses fatores ambientais permite implementar estratégias mais eficazes de controle, considerando as particularidades regionais e as características específicas de cada espécie de carrapato.

Mecanismos Biológicos que Permitem a Sobrevivência Prolongada

 

A complexidade biológica dos carrapatos vai muito além do que podemos observar. Esses ectoparasitas desenvolveram ao longo de milhões de anos mecanismos sofisticados que lhes permitem sobreviver em condições extremas, especialmente durante longos períodos sem se alimentar.

Sistema respiratório adaptado para conservação de energia

 

O sistema respiratório dos carrapatos apresenta adaptações peculiares que contribuem diretamente para sua sobrevivência prolongada. Eles possuem um sistema respiratório com abertura lateral, localizado no idiossoma após o quarto par de pernas, chamado peritrema. Esse sistema permite uma troca gasosa extremamente eficiente mesmo em condições de baixa atividade.

Diferentemente de outros artrópodes que possuem alta taxa respiratória, os carrapatos desenvolveram mecanismos para reduzir o consumo de oxigênio. A taxa respiratória nos artrópodes está diretamente relacionada ao porte e às necessidades metabólicas – enquanto animais menores geralmente apresentam taxas respiratórias mais elevadas por unidade de massa corporal, os carrapatos conseguem controlar esse processo.

Além disso, a respirometria (medição da troca gasosa) em carrapatos revela que eles ajustam seu consumo de oxigênio conforme as necessidades fisiológicas. Durante períodos de jejum, essa taxa cai significativamente, assim como ocorre em colêmbolos e outros artrópodes em fase de repouso. Esta é uma adaptação fundamental para conservação de energia durante os longos períodos entre refeições.

Metabolismo reduzido durante períodos de jejum

 

Durante a fase não parasitária, que dura aproximadamente 32 dias, o carrapato não se alimenta e sobrevive exclusivamente de suas reservas internas. Para isso, ele reduz drasticamente seu metabolismo, entrando em um estado similar à hibernação.

Estudos enzimáticos demonstram que a maioria dos níveis transcricionais e de atividade enzimática no ovário e no corpo gorduroso é maior em fêmeas parcialmente ingurgitadas do que em fêmeas totalmente ingurgitadas, com exceção da atividade de glutationa peroxidase. Isso sugere que o carrapato necessita de maior controle de oxidantes nos momentos iniciais de alimentação do que na fase final, quando se prepara para a postura.

No entanto, mesmo com o metabolismo reduzido, os carrapatos mantêm a homeostase redox (equilíbrio de oxidantes) sem causar estresse oxidativo, como demonstrado pelos níveis inalterados de NADPH entre fêmeas em diferentes estágios de alimentação. Este controle metabólico preciso permite que utilizem suas reservas de forma extremamente eficiente.

Ademais, os carrapatos desenvolveram adaptações fisiológicas para transportar, armazenar, metabolizar e secretar componentes tóxicos da sua dieta e do ambiente, o que lhes confere resistência extra em condições adversas.

Reservas de nutrientes no corpo do carrapato

 

O corpo gorduroso é o órgão responsável pelo armazenamento de reservas nutricionais nos carrapatos, apresentando uma importância equivalente ao fígado nos vertebrados. Ele armazena principalmente lipídeos e glicídios, com predominância de triacilglicerídeos, sendo crucial para as vias metabólica e reprodutiva.

Durante a fase de alimentação, o conteúdo lipídico nas fêmeas aumenta significativamente, de 22 para 63 microgramas. Existe uma relação diretamente proporcional entre o peso da fêmea ingurgitada e o teor de colesterol presente em seus ovos – quanto maior o peso da teleógina no momento da oviposição, maior será a quantidade de colesterol em seus ovos.

Os grânulos de vitelo funcionam como lisossomos modificados, pois além de armazenarem as substâncias de reserva, possuem a maquinaria enzimática necessária para disponibilizar estes nutrientes de forma controlada. Esta regulação é essencial para prover nutrientes coordenadamente conforme as necessidades do desenvolvimento do embrião, garantindo sua sobrevivência até se tornar um organismo apto a fazer uma refeição.

Outro mecanismo extraordinário de sobrevivência é a capacidade de absorção de água. Os carrapatos conseguem absorver umidade do orvalho, das chuvas e até do ar subsaturado para compensar suas perdas diurnas de água. Este processo ocorre através da boca, que secreta uma solução hidrofílica, absorve a umidade atmosférica e depois recolhe esta solução já hidratada. Essa capacidade permite que permaneçam hidratados e viáveis durante muitos meses entre as refeições sanguíneas.

Portanto, a combinação desses mecanismos biológicos sofisticados – sistema respiratório eficiente, metabolismo adaptável e sistema de armazenamento de nutrientes – constitui a base da surpreendente capacidade de sobrevivência dos carrapatos, permitindo que esses parasitas resistam por períodos prolongados sem hospedeiro.

Ciclo de Vida e Períodos Críticos de Sobrevivência

 

O ciclo de vida dos carrapatos se divide em quatro estágios distintos: ovo, larva, ninfa e adulto. Cada fase apresenta características únicas de resistência e sobrevivência, permitindo que esses parasitas persistam em ambientes hostis por períodos impressionantes, mesmo sem acesso a hospedeiros.

Sobrevivência das larvas sem alimentação (até 60 dias)

 

As larvas representam o primeiro estágio móvel do ciclo de vida dos carrapatos após a eclosão dos ovos. Mesmo sendo o estágio mais vulnerável, estas pequenas formas hexápodes (com seis patas) já demonstram notável resistência. Conseguem sobreviver até 60 dias sem qualquer alimentação sanguínea, um período crucial para encontrarem um hospedeiro adequado.

Após emergirem dos ovos, as larvas permanecem próximas às cascas por dois a três dias, aguardando o endurecimento de sua cutícula. Este período inicial é fundamental para sua sobrevivência, pois uma carapaça devidamente endurecida oferece melhor proteção contra fatores ambientais adversos.

Uma vez prontas, sobem no primeiro talo de planta que encontram, formando agrupamentos característicos conhecidos como “bolinhos”. Ali permanecem à espera da passagem de hospedeiros, sendo atraídas pelo gás carbônico da respiração dos animais ou pelo deslocamento do ar.

Contudo, mesmo possuindo tal resistência, as larvas são particularmente vulneráveis a predadores naturais como formigas e algumas espécies de aves. Além disso, a fase não parasitária sofre influência direta de fatores abióticos como temperatura e umidade, o que explica por que muitas larvas não completam seu ciclo de desenvolvimento.

Resistência das ninfas em condições adversas

 

Após se alimentarem como larvas, estes parasitas caem ao solo e sofrem ecdise (muda), transformando-se em ninfas. Neste estágio, os carrapatos ganham seu quarto par de pernas e placas espiraculares (estruturas respiratórias), aumentando significativamente sua resistência às condições ambientais desfavoráveis.

As ninfas permanecem no ambiente por aproximadamente três semanas antes de buscar um novo hospedeiro. Durante esse período, desenvolvem estratégias de sobrevivência mais sofisticadas que as larvas. Quando encontram um hospedeiro adequado, alimentam-se por cerca de uma semana antes de se desprenderem novamente.

Um aspecto notável do comportamento das ninfas é sua capacidade de permanecer em ambiente próximo a onde o hospedeiro costuma ficar por mais tempo (tocas, casinhas, canis, frestas e rachaduras nas paredes). Este comportamento, denominado “nidícola”, permite que permaneçam semanas ou até meses no ambiente esperando o retorno do hospedeiro caso este seja removido do local.

Durante condições climáticas desfavoráveis, algumas espécies de ninfas podem realizar dois repastos sanguíneos antes da muda, enquanto outras conseguem mudar do primeiro para o segundo instar sem necessidade de alimentação. Esta flexibilidade metabólica representa uma adaptação crucial para sua sobrevivência.

Longevidade dos carrapatos adultos sem hospedeiro

 

Entre todos os estágios, os carrapatos adultos apresentam a maior resistência ao jejum prolongado. Os machos adultos conseguem sobreviver impressionantes 200 dias sem qualquer alimentação [112], enquanto as fêmeas demonstram resistência ainda maior, suportando até 220 dias de jejum [112].

Ademais, certas espécies exibem resistência ainda mais extraordinária. Os adultos de carrapatos duros (família Ixodidae) podem sobreviver até um ano sem alimentação, enquanto algumas espécies específicas resistem até dois anos em jejum completo.

Estudos realizados em condições controladas com Argas (Persicargas) miniatus revelaram que, em ambiente com temperatura de 27±1°C e umidade relativa de 80±10%, os machos sobreviveram por 165 dias e as fêmeas por 300 dias. Já em condições de laboratório não controladas, esses períodos foram de 135 dias para machos e 240 dias para fêmeas, demonstrando como fatores ambientais influenciam diretamente a sobrevivência.

Ao comparar a longevidade média entre os sexos, observa-se que as fêmeas vivem consistentemente mais que os machos. Em ambiente controlado, a longevidade média foi de 116,50±49,75 dias para machos e 180,50±88,74 dias para fêmeas. Em laboratório, esses números foram de 103±41,08 dias para machos e 167,50±75,75 dias para fêmeas. Esta diferença pode ser explicada pelas necessidades reprodutivas da espécie, já que as fêmeas precisam sobreviver tempo suficiente para encontrar um hospedeiro, alimentar-se e realizar a postura dos ovos.

Um fator importante para esta impressionante capacidade de sobrevivência é o comportamento de redução metabólica extrema, permitindo que permaneçam meses escondidos sem alimentação, aguardando condições climáticas mais favoráveis para buscar um hospedeiro.

Carrapatos em Cachorros: Comportamento e Adaptação

 

Entre os parasitas que afetam os animais domésticos, o carrapato se destaca por sua extraordinária adaptação ao ambiente urbano e pela relação próxima com os cães. No Brasil, existem 67 espécies descritas de carrapatos, mas uma delas merece atenção especial quando falamos de animais de estimação.

Como o Rhipicephalus sanguineus se adapta ao ambiente doméstico

 

O Rhipicephalus sanguineus, conhecido popularmente como carrapato vermelho do cão ou carrapato do canil, é a espécie de carrapato com maior distribuição geográfica do mundo. Esse parasita desenvolveu habilidades impressionantes para sobreviver no ambiente doméstico, demonstrando comportamento “endofílico” – termo que designa sua adaptação à vida em ambientes internos.

Este carrapato possui comportamento essencialmente “nidícola”, significando que prefere habitar os locais onde o hospedeiro permanece por mais tempo. Em residências com cães infestados, é comum encontrar carrapatos caminhando pelas paredes, móveis e até mesmo escondidos em frestas. Eles se abrigam em:

  • Tocas e casinhas de cães
  • Frestas de paredes e postes
  • Atrás de tomadas e dentro de armários
  • Enterrados na areia (até 10 cm de profundidade)

Um aspecto crucial para entender a adaptação deste parasita é que apenas 5% da população total de carrapatos está visível no corpo do cão – os outros 95% permanecem escondidos no ambiente. Isso significa que, se um cachorro apresenta cinco carrapatos presos ao corpo, provavelmente existem cerca de 95 outros parasitas ocultos nas proximidades.

Além disso, o Rhipicephalus sanguineus consegue completar até quatro gerações por ano no Brasil, onde as condições ambientais são favoráveis. Esta rápida reprodução, aliada à grande adaptabilidade ambiental, torna este carrapato um dos problemas parasitários mais comuns em cães urbanos.

Anteriormente restrito a climas tropicais, este carrapato expandiu seu habitat para regiões mais temperadas, aproveitando-se dos sistemas de aquecimento das residências ou encontrando microambientes ideais para sua sobrevivência. Esse processo de adaptação permitiu sua expansão para casas, canis e hospitais veterinários.

Por que os cães são hospedeiros preferenciais

 

Os cães são hospedeiros primários do Rhipicephalus sanguineus, sendo sua presença provavelmente uma condição necessária para a manutenção de grandes populações deste carrapato. Esta preferência não é acidental e existe por várias razões biológicas.

Primeiramente, o Rhipicephalus sanguineus é um carrapato monotropico – todas as fases de seu desenvolvimento (larva, ninfa e adulto) preferem se alimentar da mesma espécie hospedeira. Durante sua evolução, este carrapato desenvolveu uma relação estreita com os cães domésticos, que facilitaram sua distribuição mundial.

Os carrapatos são atraídos ativamente pelos cães através dos odores que estes liberam. Funciona como um “caçador”, orientado por substâncias produzidas pelo hospedeiro, incluindo o CO₂ da respiração. Estudos recentes sugerem que os carrapatos podem apresentar padrões comportamentais distintos quando expostos a odores de diferentes raças de cães.

No entanto, a suscetibilidade dos cães a este carrapato é variável. Segundo algumas pesquisas, os canídeos não desenvolvem imunidade efetiva contra o parasita, pois não possuem células capazes de realizar uma defesa eficaz. Por outro lado, outros estudos indicam diferentes graus de resistência em cães que sofreram reinfestações, já que animais residentes nos mesmos locais podem apresentar graus de infestação totalmente distintos.

Determinadas áreas do corpo canino são preferidas por estes parasitas, como regiões das orelhas, axilas, peito, pescoço e pequenas áreas entre os dedos. Esta preferência está relacionada à facilidade de fixação e à dificuldade do cachorro em alcançar estas áreas para se coçar.

Diferenças de Sobrevivência Entre os Principais Tipos de Carrapatos

 

No mundo dos parasitas, a classificação dos carrapatos em diferentes famílias revela estratégias surpreendentes de sobrevivência. Globalmente, existem mais de 940 espécies de carrapatos registradas, das quais apenas cerca de 10% ocorrem no Brasil, totalizando 75 espécies distribuídas em duas famílias principais.

Carrapatos duros (Ixodidae): campeões de resistência

 

A família Ixodidae, conhecida como “carrapatos duros”, representa a maior parte da diversidade destes parasitas, com aproximadamente 680 espécies descritas mundialmente e 51 espécies no Brasil. O nome “duros” deriva da presença de um rígido escudo quitinoso que cobre toda a superfície dorsal dos machos e parcialmente o corpo das fêmeas, larvas e ninfas.

Esta característica anatômica confere maior proteção contra dessecação, sendo um fator determinante para sua notável resistência ambiental. Além disso, os carrapatos duros apresentam o capítulo (estrutura que contém as peças bucais) sempre visível e projetado para frente, facilitando a fixação prolongada no hospedeiro.

Diferentemente de outras espécies, os carrapatos desta família podem sobreviver por diversos meses ou até anos sem se alimentar. Esta extraordinária capacidade está diretamente relacionada ao seu ciclo biológico, que pode envolver um, dois ou três hospedeiros, dependendo da espécie.

Carrapatos moles (Argasidae): estratégias diferentes

 

Por outro lado, a família Argasidae, dos “carrapatos moles”, possui cerca de 200 espécies globalmente e 24 espécies no Brasil. Caracterizam-se pela ausência do escudo quitinoso, o que lhes confere uma aparência mais flexível. Além disso, seu capítulo não é visível quando observados dorsalmente.

Enquanto os carrapatos duros geralmente se alimentam uma única vez em cada estágio de desenvolvimento, permanecendo fixados por dias, os carrapatos moles adotam uma estratégia diferente: alimentam-se várias vezes, em refeições mais rápidas. Os adultos, especificamente, alimentam-se repetidamente, geralmente antes das cópulas e oviposições.

O ciclo biológico dos argasídeos compreende as fases de ovo, larva, dois ou mais instares ninfais e adultos. Para completar esse ciclo, cada instar normalmente realiza um repasto sanguíneo antes de cada ecdise (muda), embora algumas espécies apresentem variações, como ninfas que conseguem mudar do primeiro para o segundo instar sem necessidade de alimentação.

Espécies brasileiras e suas capacidades específicas

 

No Brasil, foram registradas até o momento 73 espécies de carrapatos, sendo 47 da família Ixodidae e 26 da família Argasidae. No Rio Grande do Sul, especificamente, encontram-se 23 espécies, incluindo representantes de ambas as famílias.

Entre as espécies de maior relevância no território brasileiro, destacam-se: Amblyomma sculptum (carrapato-estrela), com ciclo trioxeno; Rhipicephalus microplus (carrapato-do-boi), de ciclo monoxeno; Rhipicephalus sanguineus (carrapato-marrom-do-cão), que necessita de três hospedeiros; e Dermacentor nitens (carrapato-da-orelha-do-cavalo), também de ciclo monoxeno.

Estas espécies desenvolveram capacidades específicas de sobrevivência adaptadas aos ambientes brasileiros. O Amblyomma dubitatum, por exemplo, possui ciclo heteroxeno, exigindo três hospedeiros, tendo as capivaras como principal hospedeiro na fase adulta. Já o Rhipicephalus microplus, um dos ectoparasitas de maior importância econômica na pecuária brasileira, desenvolveu um ciclo simplificado, necessitando de apenas um hospedeiro para completar seu desenvolvimento.

As condições climáticas e a latitude representam os principais fatores reguladores do ciclo biológico dos carrapatos, com a temperatura exercendo papel dominante ao regular a duração das fases de vida livre. Consequentemente, as diferentes espécies adaptaram suas estratégias de sobrevivência às particularidades geoclimáticas de cada região do país.

Estudos Científicos Sobre a Resistência ao Jejum

 

A pesquisa científica tem sido fundamental para ampliar nossa compreensão sobre a capacidade de sobrevivência dos carrapatos sem hospedeiros. Os laboratórios do mundo todo dedicam-se a desvendar os mecanismos que tornam estes parasitas tão resistentes e adaptáveis.

Pesquisas laboratoriais sobre sobrevivência sem hospedeiro

 

Os métodos de estudo da sobrevivência dos carrapatos envolvem diferentes técnicas de coleta e análise. A inspeção visual, responsável por 57% do total de espécimes coletados em alguns estudos, é amplamente utilizada devido à alta infestação no ambiente. Já o arrasto de flanela demonstrou 75% de eficácia na coleta de estágios imaturos e 36% dos adultos.

Em laboratório, pesquisadores observaram que carrapatos como o Argas (Persicargas) miniatus, mantidos em ambiente controlado com temperatura de 27±1°C e umidade relativa de 80±10%, apresentaram sobrevivência impressionante: machos resistiram por 165 dias e fêmeas por 300 dias sem alimentação. Em condições não controladas, esses períodos foram de 135 dias para machos e 240 dias para fêmeas.

Outros testes avaliam a eficácia de carrapaticidas através do Teste de Imersão de Adultos e do Teste de Pacote de Larvas. Estes procedimentos são essenciais para entender os mecanismos de resistência e jejum prolongado desses parasitas.

Descobertas recentes que mudaram nossa compreensão

 

Estudos realizados pela Secretaria da Agricultura revelaram dados alarmantes: 95% das amostras de propriedades do Rio Grande do Sul são resistentes a pelo menos um carrapaticida e 45% delas são resistentes a quatro ou mais produtos. Em pesquisa mais recente, das 176 propriedades analisadas com multirresistência, 98% apresentaram resistência a quatro ou mais carrapaticidas e 71% demonstraram resistência a todos os carrapaticidas testados.

Cientistas identificaram os mecanismos de resistência dos carrapatos, que incluem:

  • Resistência metabólica pela eliminação do produto acaricida via enzimas celulares
  • Insensibilidade no sítio de ação devido a mutações genéticas
  • Detoxificação por três famílias distintas de enzimas: citocromo P450 monooxigenase, esterases e glutationa S-transferases

Além disso, pesquisadores do Butantan fizeram uma descoberta surpreendente ao estudar a glândula salivar do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum). Eles produziram uma proteína recombinante com atividade antitumoral, batizada de Amblyomin-X. Esta proteína mostrou capacidade de combater tumores em animais, reduzindo em 60% os nódulos metastáticos nos pulmões, rins e linfonodos, e em 75% o volume de melanoma equino.

Dessa forma, o conhecimento científico sobre carrapatos não apenas melhorou nossa compreensão sobre sua resistência ao jejum, mas também revelou possibilidades terapêuticas inesperadas derivadas desses parasitas que tanto nos desafiam.

Impacto das Mudanças Climáticas na Sobrevivência dos Carrapatos

 

A crise climática atual representa um fator determinante na alteração dos ciclos de vida dos carrapatos. As evidências científicas demonstram que as mudanças ambientais estão modificando drasticamente os padrões de atividade e distribuição desses ectoparasitas, criando novos desafios para o controle de doenças transmitidas por eles.

Como o aquecimento global afeta os períodos de atividade

 

Grande parte do ciclo de vida dos carrapatos (cerca de 95%) ocorre na vegetação, tornando-os extremamente suscetíveis aos fatores abióticos. Consequentemente, as mudanças climáticas afetam diretamente sua distribuição geográfica e sazonal, abundância, taxa de desenvolvimento e período de busca por hospedeiros.

Um dos efeitos mais preocupantes do aumento da temperatura global é a alteração na sazonalidade dos carrapatos. Anteriormente, estes parasitas apresentavam períodos de atividade bem definidos, iniciando normalmente após as primeiras chuvas da primavera. No entanto, devido ao aquecimento global, é esperado que a atividade dos vetores ixodídeos deixe de ser sazonal, passando a existir parasitação durante todo o ano, possibilitando assim transmissão contínua de doenças.

Além disso, o aumento da temperatura promove uma maior afinidade entre os agentes etiológicos e os organismos, acelerando seu desenvolvimento e aderência ao hospedeiro. Pesquisadores já estão observando carrapatos ativos mesmo durante os meses mais frios do inverno. Um exemplo concreto dessa mudança foi documentado por especialistas que encontraram três carrapatos ativos em fevereiro, período tradicionalmente considerado de baixa atividade.

As áreas verdes urbanas, apesar de sua importância, podem potenciar o aumento de habitats favoráveis à propagação de vetores ixodídeos, bem como intensificar o contato entre humanos, animais e vetores.

Expansão geográfica devido à maior resistência

 

O cenário de aquecimento global está promovendo uma expansão territorial significativa dos carrapatos. Estudos mostram uma clara extensão do território desses parasitas, que estão avançando para o norte e alcançando altitudes mais elevadas. Esta expansão deve-se principalmente às temperaturas mais altas, que criam condições favoráveis em áreas anteriormente hostis a esses parasitas.

No Brasil, o valor dos prejuízos causados pelos carrapatos tende a aumentar significativamente devido à resistência que estão demonstrando contra os princípios ativos usados e também ao aquecimento global, que está provocando o aparecimento de carrapatos em regiões não afetadas anteriormente, como em parte da região sul.

As mudanças no meio ambiente, associadas ao crescente avanço das áreas urbanizadas sobre o ambiente natural, têm propiciado o contato direto do homem com a fauna acarológica silvestre. Os especialistas apontam as alterações climáticas como um fator-chave para a expansão da área de distribuição, o aumento da abundância e o prolongamento dos períodos de atividade das carraças.

Um dado alarmante vem dos Estados Unidos, onde os casos de doença de Lyme triplicaram nos últimos 30 anos, especialmente na região da Nova Inglaterra, devido a fatores como o aquecimento dos invernos, o aumento da população de veados e a expansão das áreas suburbanas.

Embora as mudanças climáticas sejam um fator crucial, especialistas ressaltam que estas “claramente não explicam tudo”. O desmatamento e o desenvolvimento urbano também contribuem significativamente para esse cenário, alterando a dinâmica ecológica. Os carrapatos prosperam na borda da floresta, áreas que aumentam com a expansão urbana.

Carrapatos em Humanos: Riscos Associados à Sobrevivência Prolongada

 

Os riscos associados aos carrapatos para a saúde humana vão muito além do desconforto inicial da picada. Esses pequenos aracnídeos são vetores de doenças potencialmente graves e sua capacidade de sobrevivência prolongada intensifica essa ameaça.

Tempo de fixação necessário para transmissão de doenças

 

Para ocorrer a transmissão de patógenos, o carrapato precisa permanecer fixado à pele por um período mínimo. No caso da febre maculosa, o tempo médio necessário para a inoculação da bactéria é de aproximadamente 4 a 6 horas de parasitismo. Algumas pesquisas indicam que esse tempo pode ser ainda mais específico, estimando-se cerca de 4 horas como mínimo necessário para a transmissão.

Os carrapatos imaturos, conhecidos como micuins, representam maior risco por serem extremamente pequenos e frequentemente passarem despercebidos na pele. Isso permite que permaneçam sugando sangue humano por horas ou até dias, tempo suficiente para que a bactéria atinja a corrente sanguínea. O período de incubação da febre maculosa varia de 2 a 14 dias após a infecção.

Períodos de maior risco de infestação em residências

 

A incidência de carrapatos varia sazonalmente, com períodos específicos de maior atividade. O inverno, com seu clima seco, registra maior presença desses parasitas. Além disso, a febre maculosa apresenta maior ocorrência entre os meses de junho e novembro, quando predominam as formas jovens do carrapato.

No entanto, o verão não está livre desse risco. A combinação de chuva, umidade e calor cria condições ideais para a proliferação dos ovos de carrapatos. Um dado alarmante: cada fêmea pode depositar até 5.000 ovos em apenas 21 dias.

É importante ressaltar que a presença de carrapatos em animais domésticos representa apenas 5% do problema total. Os outros 95% dos parasitas encontram-se espalhados pelo ambiente. Isso significa que, se você encontrar cinco carrapatos em seu cão, possivelmente existem cerca de 95 outros escondidos em:

  • Cantos de paredes e frestas
  • Ralos e áreas úmidas
  • Tecidos como panos de chão
  • Mobiliário e objetos próximos às áreas frequentadas pelo animal

Após exposição a ambientes de risco, realize inspeções corporais a cada 3 horas, observando com atenção locais como axilas, umbigo, entre os dedos e atrás das orelhas.

Conclusão

 

Portanto, os carrapatos demonstram uma capacidade extraordinária de sobrevivência, resistindo até 220 dias sem alimentação através de mecanismos biológicos sofisticados. Suas adaptações incluem um sistema respiratório eficiente, metabolismo reduzido durante períodos de jejum e reservas nutricionais estratégicas.

A resistência desses parasitas varia significativamente entre espécies e estágios de vida. Larvas sobrevivem até 60 dias sem alimento, enquanto adultos podem resistir mais de 200 dias em jejum. Essa notável capacidade, aliada às mudanças climáticas, tem expandido sua distribuição geográfica e períodos de atividade.

Pesquisas científicas revelam dados preocupantes sobre a crescente resistência dos carrapatos a produtos químicos, com 95% das amostras apresentando resistência a pelo menos um carrapaticida. Além disso, sua adaptação ao ambiente doméstico, especialmente em relação aos cães, torna seu controle ainda mais desafiador.

Os riscos à saúde humana permanecem significativos, considerando que apenas 4 horas de fixação são suficientes para a transmissão de doenças graves como a febre maculosa. Assim, conhecer profundamente esses parasitas e seus mecanismos de sobrevivência torna-se fundamental para desenvolver estratégias eficazes de controle e prevenção, protegendo tanto humanos quanto animais domésticos.

FAQs

1. Por quanto tempo um carrapato consegue sobreviver sem se alimentar? Os carrapatos adultos podem sobreviver impressionantes 200 a 220 dias sem se alimentar, dependendo da espécie. As larvas resistem até 60 dias, enquanto as ninfas e adultos de algumas espécies podem sobreviver até um ano ou mais sem alimentação em condições favoráveis.

2. Como os carrapatos se adaptam ao ambiente doméstico? O Rhipicephalus sanguineus, conhecido como carrapato vermelho do cão, adaptou-se muito bem ao ambiente doméstico. Ele se esconde em frestas de paredes, móveis e até dentro de tomadas. Apenas 5% da população total está visível no cão, enquanto 95% permanece oculta no ambiente.

3. Quais são os períodos de maior risco de infestação por carrapatos? O risco de infestação varia sazonalmente. O inverno registra maior presença de carrapatos devido ao clima seco. Já a febre maculosa tem maior ocorrência entre junho e novembro. No verão, a combinação de chuva, umidade e calor favorece a proliferação dos ovos.

4. Quanto tempo um carrapato precisa ficar fixado para transmitir doenças? Para a transmissão da febre maculosa, o carrapato precisa ficar fixado à pele por aproximadamente 4 a 6 horas. Os carrapatos imaturos (micuins) representam maior risco por serem muito pequenos e passarem despercebidos, podendo sugar sangue por horas ou dias.

5. Como as mudanças climáticas estão afetando os carrapatos? O aquecimento global está alterando os padrões de atividade e distribuição dos carrapatos. Eles estão se expandindo para novas áreas geográficas, incluindo regiões mais ao norte e altitudes mais elevadas. Além disso, os períodos de atividade estão se estendendo, com carrapatos sendo encontrados ativos mesmo durante os meses mais frios do inverno.

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Os Carrapatos Podem Sobreviver Sem Um Hospedeiro? A Verdade Científica Sobre Sua Sobrevivência

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